Por Alan Leal - Jornalista e filho de Jequié
O calor do São João de Jequié ainda ecoa nas memórias, e com ele a imagem vibrante de uma cidade que se desdobrou para receber turistas e celebrar a cultura. Durante o mês de junho, as redes sociais foram tomadas por vídeos e fotos de influenciadores locais, que, com louvável empenho, mostraram o melhor da festa, impulsionando a notoriedade do evento e, por tabela, da cidade. Parece que deu certo, afinal, Jequié virou tema de conversas em todo o país, inclusive por uma polêmica que colocou o prefeito Zé Coca em evidência nacional. Mas agora, com a festa em silêncio, onde foram parar esses influenciadores?
Jequié, infelizmente, não é conhecida apenas pelo seu São João. Há anos, a cidade figura no topo de rankings de violência, liderando o mapa nacional de homicídios por 100 mil habitantes. Enquanto o prefeito rebate os dados nas redes sociais, o problema persiste. A construção de um presídio em 2006 e a pobreza são apontados como causas, mas o fato é que a violência se tornou uma sombra que se estende por todos os cantos e atinge a todos, sem distinção.
A sensação, para quem acompanha a cidade de longe, como eu, é de que há um abismo entre a Jequié mostrada nas redes e a Jequié real, que sofre com a violência cotidiana.
A inércia da cidade e o silêncio dos influenciadores: A violência em Jequié se tornou um problema que parece desafiar as instituições. As polícias Civil e Militar, embora incansáveis em seu trabalho, parecem enxugar gelo, com ações que não conseguem reverter o cenário. O mesmo se pode dizer da justiça, que, apesar de sua importância, não tem conseguido ditar um ritmo de combate que seja suficiente para que a criminalidade recue.
Nesse cenário de insegurança, o silêncio dos influenciadores digitais é ensurdecedor. Enquanto eram os primeiros a divulgar cada detalhe do São João, hoje eles se calam. Não há postagens, stories ou reações sobre os recentes atos de violência que atormentam a cidade. É como se, ao fim da festa, a responsabilidade de se preocupar com os problemas graves de Jequié tivesse sido jogada para debaixo do tapete. A cidade que eles tanto promoveram parece ter se tornado um cenário de fundo, e não a casa que merece atenção e cuidado.
O que se espera de alguém que tem a capacidade de alcançar milhares de pessoas? Que use sua voz para o bem, para levantar discussões importantes, para ser a ponte entre a sociedade e as autoridades. Não se trata de uma crítica vazia, mas de um clamor de um filho de Jequié que, mesmo longe, sofre com as notícias de violência que se multiplicam dia após dia. A cidade que sempre foi lembrada como um lugar pacato e de gente talentosa não pode continuar sendo conhecida apenas por seus números assustadores de criminalidade.
Chegou a hora de levantar a voz: Essa não pode ser a Jequié que aceita o crime como parte do cotidiano. É hora da população cobrar das autoridades, dos poderes públicos e das forças de segurança que assumam suas responsabilidades de forma efetiva. É hora de não aceitar que grupos criminosos ditem o dia a dia da cidade, impondo o medo.
Que os influenciadores de Jequié também se juntem a essa luta. Use sua voz, sua plataforma, para amplificar o que está acontecendo e para cobrar soluções. Jequié não é apenas uma cidade para festejar, mas um lar que precisa de paz e segurança. O toque aqui não é de crítica, mas de um chamado à ação, uma convocação para que todos, juntos, lutemos pela Jequié que queremos: uma cidade que inspire talentos, não manche manchetes.
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