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Bené Sena a direita e o amigo Miguel Mensitieri |
"Em Mangueira quando morre um poeta todos choram".
Texto: Benedito Freire Sena, ex-secretário de Cultura, músico diletante e avô de Elis Antonieta
_Causou estranheza a mim e aos demais presentes no velório do poeta, contista, cronista e revisor, Miguel Mensitieri, a ausência de uma nota de pesar e de um representante da Secretaria de Cultura e Turismo do Município, cujo secretário é escritor, membro da Academia de Letras de Jequié, suposto defensor das causas culturais, históricas e ecológicas desta terra.
Também mantiveram-se em sua zona de conforto tantas outras autoridades artísticas e políticas. Certamente optaram por acompanhar remotamente as solenidades fúnebres da Rainha Elizabeth II.
Pelo menos os confrades e confreiras de Mensitieri - que deixa vaga a cadeira 37 da ALJ, cujo patrono é o artista plástico tropicalista Edinizio Ribeiro - se fizeram representados pelo poeta e atual presidente da instituição, Júlio Lucas e seus colegas Leonam Oliveira e Márcia Rúbia. Também é justificável a ausência dos que encontram-se enfermos ou em idade avançada.
Mas, ao acordar nesta manhã cantarolando Nelson Cavaquinho, me vem o lamento que não cala diante de outro samba: Ainda me surpeende a ausência dos ditos intelectuais em eventos e solenidades dos nossos verdadeiros talentos em vida ou post-mortem? Creio que não... já não surpreende... se tornou enfadonha rotina na brilhante Cidade Sol este samba de uma nota só.
E já previa Waly Salomão, o esquecimento por ignorância (ou a ignorância do esquecimento) por parte dos seus conterrâneos: "eu não prescindo de Jequié, Jequié é que prescinde de mim". E reclamava mais ou menos assim: "Se quiserem me homenagear que seja enquanto estou vivo". Nem uma coisa nem outra, poeta...
Enquanto isso, como bons súditos de autoridades plebeias, assistimos passivos com a aquiescência de parte da Sociedade Organizada, o sepultamento da Biblioteca Central Newton Pinto de Araújo posta à venda por uma ninharia.
Depois do cortejo de milhares de livros em caminhão aberto da prefeitura retornando à antiga, mimosa e pequenina Biblioteca Municipal, onde há quase duas décadas já não cabia mais seu significativo acervo em meio aos estudantes de então ávidos por leitura, vem a pá de cal sobre a biblioteca dos sonhos.
Evidente que não estamos em Mangueira onde morreu contente o grande Nelson Cavaquinho e tantos outros poetas seresteiros. Mas gostaria de continuar cantarolando meu Pranto de Poeta:
"Vivo tranquilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer...".
Viva Nelson Cavaquinho!
Viva Guilherme de Brito!
Viva Miguel Mensitieri!
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